segunda-feira, fevereiro 19, 2007

57. ALEXANDRE O'NEILL

O Público, a propósito da publicação de Alexandre O'Neill, Uma Biografia Literária, de Maria Antónia Oliveira, oferece-nos na sua edição on-line um diaporama realizado sobre fotografias de O'Neill, com banda sonora que inclui um poema dito pelo próprio. É um pequeno mas interessante trabalho (bem) feito a partir de uma entrevista de Isabel Coutinho a Maria Antónia Oliveira, que saiu no último (que por acaso foi o primeiro) número do (excelente) Ipsilon. Quem não leu, pode ler em www.publico.pt Em qualquer dos casos, tenha ou não lido, o diaporama merece uma visita. E vale sempre a pena conhecer melhor o O'Neill.

Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill

sábado, fevereiro 17, 2007

56. RAUL SOLNADO by Teresa Sá

A fotografia é da Teresa Sá, que é uma excelente fotógrafa e faz o favor de ser minha amiga. Fui roubar a foto ao seu magnífico site http://www.lilacdays.com e espero que ela não se importe.
O modelo é o Raul de todos nós, neste caso dos que quieserem estar presentes na iniciativa que foi lançada pelo Lauro António no seu http://vava-diando.blogspot.com.
É de não perder. O Raul Solnado é um conversador genial, é um homem profundamente inteligente, um apreciador incondicional da vida, de uma sensibilidade grande como o mundo e uma capacidade descomunal de ser amigo. Presença indispensável na minha (a única cuja legitimidade reconheço) lista de "grandes portugueses".

55. COISAS DE QUE TENHO SAUDADES II

O Grupo do Leão - Columbano - Museu do Chiado

Quando os meus pais iam viajar, eu ficava triste. A casa ficava subitamente muito grande e os relógios tornavam-se inúteis porque não havia a hora do meu pai chegar.
Então os meus avós inventavam para mim a alegria. E a alegria era feita de coisas de que tenho saudades. Muitas saudades.
Tenho saudades de ir jantar ao Leão d’Ouro. Era um bom restaurante antigo, na Rua 1º de Dezembro. E não quero saber se hoje é um rodízio muito bom, farei os possíveis por não passar à porta. Tenho saudades das cadeiras enormes e pesadas do Leão d’Ouro, do grande leão dourado à entrada, das toalhas brancas de um pano adamascado e sem mácula, da sensação de uma certa humidade nos guardanapos. Tenho saudades dos salmonetes grelhados, com molho de manteiga e limão a espremer, do Leão d’Ouro. E não quero sequer saber se os que se comem hoje em Setúbal, a preço de ourivesaria, são tão bons ou melhores ainda. É dos salmonetes grelhados do Leão d’Ouro que eu tenho saudades. Tenho saudades de ouvir o meu avô dizer-me que dantes se reunia ali o Grupo do Leão, quando aquilo era ainda uma cervejaria. Eu não sabia quem era o Malhoa, o Columbano ou o Rafael Bordalo Pinheiro, mas sabia que, para o meu avô me falar neles, era gente importante e boa.

Fotografia emprestada de: catedral.2.weblog.com.pt.

Depois vinha o Parque Mayer. E tenho saudades do Parque. As luzes de gato e rato que chamavam a atenção para os nomes de Vasco Santana, Beatriz Costa, Mirita Casimiro, Villaret, o grande António Silva. Tenho saudades dessa sensação de frio no estômago quando me aproximava do teatro, pela mão do meu avô, e olhava lá para cima, para a bilheteira, a pensar que podia estar esgotado. Tenho saudades de não perceber as piadas da revista, mas chegar a casa, pôr uma cartola, e imitar a Mirita Casimiro. Tenho saudades das matinés do Capitólio, onde descobri, ao colo do meu avô, o marxismo, na sua tendência groucho e fiquei incondicional para toda a vida.
Tenho saudades de lanchar na Avenida da Liberdade, aos domingos, na Pastelaria Veneza, e mandar vir uma groselha com água do castelo e um prato de bolos de creme, que ali ficavam, indiferentes aos micróbios, à espera de que comessemos os que queríamos, para os outros voltarem para a mesa de um próximo cliente.
Tenho saudades de adormecer numa cama onde se espalhavam livros, pratas de chocolates e bonecos de papel de lustro.


E de ter a certeza de que no dia seguinte, ou daí a uma semana, vinha o boletineiro entregar um telegrama que dizia “Chego depois de amanhã Sud Expresso. Saudades. M.”

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

54. VINICIUS DE MORAES

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer…
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.


Vinicius de Moraes (1913-1980)

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

53. OBRAS DE FACHADA

Fazia-me uma certa falta de ar tanta linha e tanto quadro. Decidi-me por um layout mais simples, mais claro, mas com um cabeçalho feioso. Enfim, não se pode ter tudo. No entanto, como marketingueira que sou, quero saber a opinião dos meus clientes fieis, que é para eles que queremos apresentar o produto final mais atraente. Portanto, vamos lá a saber em que votais; novo layout ou o velho? Não hesite. Dê a sua opinião! Queremos saber!

52. VALENTINE

Passou por aqui o co-fundador deste blog. Obrigada pela visita. Tardou, mas arrecadou. Faz favor de voltar mais vezes. A casa é sua... A chave fica na porta.

51. também DO CORAÇÃO



DOIS POEMAS DE AMOR

I
abro-te o sexo húmido de gozo
como-te a saliva da devassidão
rasgo-te o desejo dos seios à boca
sinto-te inundada de prazer
exposta ao estertor
que cavalga profundo no meu eixo
continua, amor, continua
e deixa-me perdido no teu ventre
até amanhecer para lá da janela
e os pássaros se ouvirem no despertar do dia

II

só para ti:
na colcha escarlate,
o borrão húmido
de amor feito-desfeito
eternamente
LA

50. COM O CORAÇÃO


Depois de termos andado com o coração nas mãos por causa de um fígado, depois de ter o coração partido por coisas que não são para aqui chamadas, depois de ter de admitir que coração e cabeça nem sempre (ou quase nunca) conseguem estar de acordo, depois de me abeirar perigosamente da loucura graças aos demolidores de apartamentos sem coração, chegou o dia de prestar a minha singela homenagem aos corações da minha terra, corações românticos, corações grandes, corações enormes, corações irrealistas, corações singelos, corações fieis, corações de leão, corações de cordeiro, corações ao alto, corações de fado, corações verde-rubros, corações sensíveis, corações generosos, corações volúveis, corações honestos, corações inflamáveis, corações nossos.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

49. SOPA DE PEDRA

Escolhe-se um grupo de emigrantes que reúna ucranianos, cabo-verdianos, angolanos, brasileiros, e o mais que vier à rede, de preferência sem estarem legalizados, e coloca-se-lhe nas mãos berbequins industriais, perfuradoras, martelos pneumáticos e outros instrumentos capazes de provocar destruição maciça.
Acerta-se um relógio despertador para as nove em ponto (da manhã, claro!) e programa-se o bando para entrar em acção na fracção de segundo exacta em que o despertador começar a tocar.
Entrega-se na mão desses energúmenos um apartamento de tamanho XL, de preferência. Deve escolher-se um que tenha por baixo inquilinos, sobretudo se trabalharem em casa e se optarem pelo sossego da noite para o fazer.
Dá-se ordens para não deixarem pedra sobre pedra.

Depois espera-se (duas, três semanas costuma ser o suficiente) para que uma das ditas, de cimento e de tamanho bastante razoável, caia pela chaminé do andar de baixo e vá estatelar-se dentro da panela da sopa.
Há mais receitas de Sopa de Pedra, mas esta é de eficácia garantida e tem o efeito seguro de provocar no inquilino do referido andar de baixo uma reacção de violência grau Zidane.

Vantagem: satisfaz-se o gosto de alguma clientela fiel deste blog.

48. UM PEQUENO QUIZZ

E agora a pergunta para casa. Quem é a menina da foto? Quem acertar ganha um ano de visitas ao detesto sopa, completamente grátis! Boa sorte a todos os concorrentes!

47. PORQUE SIM

Agora já não há desculpas. Desejá-los em consciência, educá-los em responsabilidade. Parabéns a todas as mães e pais porque têm agora uma nova responsabilidade. E só com responsabilidade pode existir liberdade .

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

44. O GATO DE LUCIEN FREUD

Gosto de seguir as sugestões que encontro em http://s-nonblog.blogspot.com/. E uma das últimas levou-me a revisitar o Lucien Freud para lhe pagar mais uma vez o tributo de uma admiração incondicional. Fiquei presa neste quadro que não conhecia ou de que não me lembrava.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

43. HI, QUE SONO QUE ESTÁ HOJE!!!!!!!

Posted by Picasa

42. COISAS DE QUE TENHO SAUDADES I

Tenho saudades do Bairro Alto onde nasci. Da Calçada dos Caetanos, hoje rebaptizada Rua João Pereira da Rosa. Do 3º andar do número 10, mesmo em frente do Conservatório. Tenho saudades dos telhados que avistava das águas furtadas do sótão de minha casa, estendendo-se até ao Tejo. Tenho saudades do sótão, uma gruta secreta onde os piratas cuja existência só eu e os meus primos conhecíamos escondiam tesouros deslumbrantes. Tenho saudades do cheiro a tinta dos jornais, que invadia as ruas ao cair da noite, quando os ardinas corriam a apregoar o Pop’lar, o Lisboa, República, traz o desastre, traz a bola, olhó Pop’lar!

Saudades de sair do eléctrico, na Calçada do Combro, ao colo, e fingir que dormia para subir a rua, cabeça tombada sobre o ombro do meu pai, a fazer cintilar por entre as pestanas semicerradas as luzes da iluminação pública. Saudades do soalho de madeira, mil vezes encerado e sempre brilhante, onde eu brincava à apanhada com os raios de sol; do poial do pote e do pote de barro vidrado, com uma torneirinha metálica muito areada. Saudades da casa dos banhos, onde no ar se condensava a humidade e das toalhas enormes, brancas e felpudas que me enrolavam o corpo quente e preguiçoso, acabado de sair da tina de esmalte. Saudades do Menino, o cão da mercearia, que era meu amigo mas uma vez me mordeu e foi o meu primeiro contacto com uma realidade chamada traição. Saudades das tardes de brincadeira à sombra do cedro do Príncipe Real; das pontes de ferro do Jardim Botânico; de São Pedro de Alcântara. Saudades dos pregões das varinas, ó viva da costa! das mulheres que apregoavam “quem quer figos, quem quer almoçar”, do som das gaitas dos amola tesouras e navalhas (“amanhã vai chover, menina, está a ouvir a gaita?”). Saudades do meu gato Janota, gordo e dourado, dormindo no parapeito da escada. E da escada, onde o armazém de papel no rés-do-chão desafiava todas as normas de segurança e faria o desespero de qualquer corpo de bombeiros. Saudades da mercearia e dos cartuchos de papel grosso, acinzentado, com uma risca fininha lilás, para onde era pesado um quilo de açúcar escuro, tirado do enorme pote de louça ou os 250 gramas de bolacha Maria, a que vinha na caixa que tinha uma menina que estava numa caixa que tinha uma menina que estava numa caixa que etc. Saudades do quarto dos meus avós, de pé direito altíssimo que eu admirava deitada na cama enorme, por entre lençóis brancos, almofadas de rendas e folhos, a cheirar a sabão e flores.
Saudades de esperar à janela, ao cair da noite, que o meu pai chegasse a casa.

sábado, fevereiro 03, 2007

40. ABAIXO AS DIETAS! BASTA!

A Maitena, que é uma mulher inteligente, carregada do mais apurado sentido de humor, tem carradas de razão! Para quê dietas?!

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

39. MAGGIE TAYLOR'S DISTRACTED CATS


Estou muito blogueira, hoje, mas isto passa. S., no http://s-nonblog.blogspot.com/ remete para alguns excelentes ilustradores e fotógrafos. Ando a espreitar um por dia porque a minha vida não é só isto. E hoje foi um dia com sinal positivo. Todo o site de Maggie Taylor é um deslumbramento. Obrigada pela dica.

38. MOBY DICK II

Seria injusto não referir que o Herman Melville estava lá na excelente interpretação de Maria Rueff e na personagem e nos excertos de texto que lhe coube interpretar. Justiça seja feita.

37. MOBY DICK

Fui ver a Moby Dick, ao S. Luiz. Encontrei lá o Herman José. Mas o Herman Melville, não. Com muita pena minha.