sexta-feira, junho 10, 2011

10 DE JUNHO COM DEDICATÓRIA



"Só o amor, e não a razão, é mais forte do que a morte."

Thomas Mann

PORQUE HOJE É 10 DE JUNHO, VERGÍLIO FERREIRA PARA SEMPRE


Pensar o Meu País

Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"



De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tínhamos pensado, pensáramos apenas os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem de se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser ignorante, incompetente e tudo o mais que se pode acrescentar ao estado em bruto. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de se ser grosseiro, sem ao menos se ter o rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O Espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um ser artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave de coco, mas que assume a gravidade e o ridículo que vier nela. Nós somos sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguista, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco — e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?



10 DE JUNHO

Em tempos muito recuados e de recordações que misturam a inocência de todas as descobertas com os tons cinzentos e pesados da ausência de liberdade e de justiça, o "10 de Junho" era o "dia da raça" e as meninas e meninos de todo o país desfilavam, "cantando e rindo", com a farda da Mocidade Portuguesa, no Estádio Nacional. Se alguém da auto-designada "geração à rasca" ler estas palavras, achará certamente que me estou a referir a um outro país, a um outro planeta ou mesmo a uma outra galáctica. Mas não, é mesmo verdadinha! Depois a designação foi sofrendo várias alterações e o dia passou a homenagear Portugal, Camões e as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

Hoje, creio que o 10 de Junho deve homenagear os sobreviventes, os que navegam diariamente um oceano de incertezas, que enfrentam o Adamastor do FMI; que descobrem a 1002ª receita para cozinhar bacalhau: só com as batatas; que procuram, apesar de tudo, fazer humor com a palavra crise; que lamentam não poder aproveitar melhor as miniférias de Julho e só terem dinheiro para uma curta estadia no Algarve - com código de barras 560, que é nosso, é português.