quarta-feira, maio 02, 2007

99. SANTA PACIÊNCIA!


Gosto do "Um Contra Todos". E vejo sempre que posso. Mas nunca deixo de ficar estupefacta! Como é que é possível alguém prestar-se a exibir em público toda a dimensão da sua ignorância com um descaramento absoluto e uma tranquilidade total, quando se encontra inscrito num concurso de cultura geral? E ainda por cima a cultura que ali se exige é realmente muito geral! Nunca a ignorância foi tão longe numa tão serena exibição!
É que os concorrentes não se importam absolutamente nada de expôr despudoradamente a sua falta total de conhecimentos, justificando-se com frases que se tornaram já ícones do programa "Aqui uma pessoa esquece-se de tudo, não é como lá em casa"; "Este tema não é o meu forte"; "Estou inclinado(a) para..."; "Acho que esse nome me diz qualquer coisa".
Eu creio que a minha atitude é reveladora de uma forte tendência masoquista, mas todos os dias lá estou eu, em frente do televisor, para ver professoras (!!!) dizerem que o autor da Mensagem é "um nome conhecido, parece-me", estudantes ignorarem os mais elementares acontecimentos da História de Portugal, ou um professor (???) de educação física dizer que não sabe se o caldo verde se faz com batata ou rabanetes... porque com tomate ele sabia que não era! (E logo eu, que detesto sopa!)
Louvo a pachorra infinita do José Carlos Malato, que consegue ouvir e calar, que remédio tem ele! Lá tem os seus desabafos, mas relamente tem uma paciência infinita!
Mas que país é este, senhores! Eles concorrem a um programa de CULTURA GERAL!!! E depois a língua portuguesa não é "o forte" deles, Fernando Pessoa é "talvez" o autor de... não se sabe de quê. Ao cinema, "infelizmente" vão pouco e quando vão não têm memória "para nomes de realizadores" (uma pessoa não pode ter memória para tudo!). Isadora Duncan é precursora do surrealismo. E o caldo verde faz-se com rabanetes! E quando, por "espírito santo d'orelha" ou "totoloto", a resposta está certa, respiram fundo e deixam escapar um "que sorte!".
Diz o povo que a sorte favorece os audazes. Digo eu, pelo que vejo, que a sorte favorece os ignorantes porque aquelas almas conseguem às vezes sair dali com uns euros no bolso.
É angustiante, asseguro-vos, ter a sensação de que faço parte de uma espécie em vias de extinção que ainda sabe que o James Stewart fez "A Janela Indiscreta" e que o António José da Silva escreveu "As Guerras do Alecrim e da Mangerona".
Santa paciência!

13 comentários:

Lauro António disse...

Minha querida companheira de infortúnio!
E viste que há tantos professores a não saberem nada de nada? Professores de Educação Física, até simpáticos, mas que não sabem nada que não seja (que não seja o quê, se nem os ossos sabem?).
Eu sei que o barulho das luzes incomoda, mas... que diabo!... todos devem saber que o caldo verde tem batata!
Ora abóbora!

Maria Eduarda Colares disse...

é isso, é o barulho das luzes, eu sabia que tinha de haver uma justificação!

Bandida disse...

:)))))

eu vi essa da sopa, da Isadora Duncan e do Pessoa...

só pode ser das lâmpadas... fundidas...

é vergonhoso sim, M.


beijos

B.
___________________________

n©n disse...

Que as luzes provocam um certo nervoso provocam, mas também vos digo, nunca cheguei à "cadeira" (não sei se é revelador) mas que estar no público é péssimo porque só se tem 6 segundos, ou se sabe ou se arrisca... agora lá? na "cadeira"? temos muito tempo, ajudas e o Sr. Malato ajuda imenso... é burrice mesmo!

fcorado disse...

António José da quê...? Fez guerras a quem...? James donde...? A janela é o quê...?

Ana Paula Sena disse...

Boa análise e boa crítica, m.!
Tomara que não faça parte de uma espécie em vias de extinção! :)
Não costumo ver, mas acredito, até porque exemplos de ilustre ignorância, não faltam por aí... Deve ser mais um caso gritante.
Beijinhos Da Ana Paula

Maria Eduarda Colares disse...

bandida: um beijo e obrigada por ouvires os meus desabafos!

s. chegar à "cadeira" até pode ter muito do factor sorte, efectivamente, agora o resto, é demais!!! Nervos? Ora, as criaturas até estão bem calmas para dizer piaduchas ao Sô Malato.

mag é isso! Força que vais lá! Só falta um danoninho! Janela...

ana paula: gritante é pouco, acredita! Vê para crer!

Anónimo disse...

eu estive na herança, outro dos concursos que foi apresentado pelo malato. a experiência só me faz sorrir. lembro-me perfeitamente quais foram as perguntas e da minha vergonha e desconforto em ser logo eliminada... acredite que ainda hoje me rio de mim própria ao pensar nisso. no ambiente de estúdio, é muito difícil conseguir a concentração. só isso me faz perdoar ter respondido errado. mas ainda assim, não é motivo para ter sido tão má concorrente. enfim, uma recordação que é uma lição!

Ouriço disse...

Há alunos universitários, não divulgo de quê, que nunca viajaram, não vão ao cinema (que dirá teatro), etc etc. Eu costumo chamar-lhe o culto da ignorância. E atenção: não me considero a última coca cola do deserto, também há muita coisa que não sei.
Bjs

Maria Eduarda Colares disse...

alice: mas isso não me surpreende nada, 6 segundos num ambiente de pressão não é coisa que favoreça uma boa prestação (eu falo, falo, mas não teria coragem de enfrentar tal prova!. Mas depois... com o Sô Malato a dar uma (às vezes duas) mãozinha! É ignorância militante!

ouriço: Ainda se fosse aquele em que a s. participou, aquela insuportável guerra de nervos, tudo bem, esse era bárbaro, eu acho que nem saberia o meu nome! É claro que eu também não sei montes de coisas então se vamos para geografia e isso... mas não saber NADA!? É demais! Faça-se justiça, também aparecem concorrentes que sabem!

Ouriço disse...

Essa dos rabanetes é bestial!!!

n©n disse...

Ed... não quer vir participar no meu Cadáver Esquisito? (olhe que lhe dava cor!!!!!)

Isabel Victor disse...

Pois ... é absurdo ! Teremos que questionar a eficácia de um sistema de ensino que gera tal ignorância ... e tal despudor !

Alguns dos concorrentes são graduados ... com vários anos de escola.

Falta um lastro ... de informação básica sobre os mais elementares referentes culturais. Resultado da massificação e da desvalorização da perspectiva humanista do ensino. A diferença entre formar e (de)formar, domesticar ...

A pobreza também é isto !

Abraço