Tinha começado a seguir o rasto do Carneiro Selvagem, é verdade, mas resolvi antecipar o prazer de descobrir Austerlitz, de W. G. Sebald, que já há algum tempo aguardava vez na minha longa lista de espera. Folheei-o, demorando-me no mistério das fotografias. Uma remeteu-me para Daniel Blaufuks e o seu recente prémio BES de fotografia - representava um enorme arquivo, existente em Teresin, antiga Theresienstadt, na República Checa, vila-campo de concentração nazi.
Ainda estava longe de saber que Austerlitz me ia envolver num percurso sinuoso pela memória e pela história mas, lidas as primeiras páginas, não me foi já possível voltar atrás. Sem um parágrafo, porque isto das viagens ao fundo da memória não devem ter nada a perturbá-las, sob pena de se perder o fio por vezes tão perigosamente ténue da narrativa, deixei-me levar por Austerlitz. Não sabia para onde ia, mas o próprio Austerlitz também o ignorava, pelo menos até ao momento em que penetrou naquela sala de espera de uma estação de caminhos de ferro, encerrada no esquecimento e no segredo desde a guerra. A viagem de Sebald vai bem fundo, bem dentro dessa máquina terrível de aniquilar consciências e memórias, agarra-se como um náufrago às recordações, debate-se para não se deixar afogar, luta, e volta à superfície. Para contar, com aparente tranquilidade, com enganoso desprendimento, numa prosa hipnotizante, irresistível, a importância de manter as recordações vivas.
Um dos mais belos, mais invulgares e mais fascinantes romances que me foi dado ler.
Não havia como lhe fugir. A minha lista de espera engrossou consideravelmente com a inclusão de todos os outros Sebald.
Mas agora é a vez de Murakami e do Carneiro Selvagem.
10 comentários:
" (...) prosa hipnotizante, irresistível, a importância de manter as recordações vivas."
m., belíssimo relato ! Fiquei com uma vontade irresistível de ler
um BEIJO *
da Isabel
subscrevo a minha homónima...:))))))))))
beijo.
Y.
M., foi uma chamada da atenção das melhores e mais importantes a fazer! Sebald é mesmo uma pequena maravilha! Não li devidamente o Austerlitz mas li umas quantas páginas (sentada numa livraria, lol) e achei-o um livro especial. Conta também com ilustrações muito bem ligadas ao texto.
Entretanto, porque não conhecia bem o escritor, decidi comprar o último dele: Vertigens e impressões". É igualmente a não perder. Mas faço tenção de ler devidamente o Austerlitz. O pior é a interminável lista de espera... lol
Adorei o seu excelente post sobre este excelente escritor! Foi um verdadeiro prazer.
Beijinhos da Ana Paula
bom dia, m. agradeço a sugestão. desejo-lhe um bom fim de semana.
obrigada também pelas suas visitas. um grande beijinho.
Vou tomar nota! Bom fim-de-semana!
fiquei inquieta de vontade...
lá vou eu para a livraria.
upsssss... agora não que já é tarde... amanhã...
beijosssssssssssssssssss querida M.
B.
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Para quem nunca leu o autor, deve-se começar por onde?
Ando indecisa entre o carneiro e o Sputnik....
ouriço, Murakami é um prazer seguro. Agora o meu conselho como leitora será de começar pelos mais antigos e vir avançando de descoberta em descoberta. O mais elaborado creio eu que é o Kafka à beira mar. Eu comecei por esse e depois os outros souberam-me... a um bocadinho menos. Entre o Sputnik e o carneiro, talvez começar pelo Sputnik, que é um pouquinho mais linear, o carneiro (creio que é posterior, se não me engano)já tem muito mais de enigmático e estranho. Mas são todos escelentes.
Entretanto, aconselho uma visita a http://www.randomhouse.com/features/murakami/site, que é lindíssimo.
Boa leitura!
Obrigada!
Bjs
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