quinta-feira, dezembro 08, 2011

A CULTURA COMPENSA

A Opéra de Montpellier está em obras. E obras, como todos sabemos, significa tapumes. Este tapume que rodeia o edifício, com este e outros títulos com referências teatrais, é uma declaração pública do valor que a municipalidade reconhece ao património cultural. Na região há 120 teatros em actividade. Montpellier tem 2 salas de ópera em funcionamento. Por essas e por outras, Montpellier subiu em poucos anos do 32º lugar de entre as cidades francesas para o 8º.

terça-feira, outubro 18, 2011

O FILHO DO VALTER HUGO MÃE


Pela minha parte, temi que a revolução que o Valter Hugo Mãe imprimiu à sua literatura ao aderir às maiúsculas significasse, por qualquer motivo insondável, uma temível inversão de marcha na qualidade a que nos habituou desde o início da sua carreira. Quando deparei com o truque da pré-compra, com o livro em branco, confesso que fiquei ainda mais apreensiva, pensando que o marketingueiro tinha tomado o lugar do escritor e que procurava a todo o custo mascarar a falta de "o que dizer" com o "como dizer". Depois li o livro e fiquei tranquila. É Valter Hugo Mãe em pleno. Está lá tudo aquilo de que gostámos (e sei que somos muitos a gostar) nas suas obras anteriores. Com alma, coração, bom gosto e talento. Portanto, resta-nos ficar à espera que este "Filho de Mil Homens" tenha muitos irmãos, para bem de todos nós, porque as famílias numerosas, naturais ou menos convencionais, são uma riqueza - é o Valter que nos diz, com o seu talento confirmado!

terça-feira, setembro 20, 2011

Sardinhas & Cinema

foto d'aqui

Não gosto de sopa, mas gosto de sardinhas. Gosto mesmo muito de sardinhas. E o que têm as sardinhas a ver com o cinema?
O Manuel Guimarães foi um grande homem de cinema, um realizador que, infelizmente, não tem visto reconhecido o seu mérito, seriedade e talento.  Graças ao esforço da Costa do Castelo, a sua obra teve recentemente edição em DVD e os que o não conhecem têm agora a oportunidade de ver filmes como Nazaré, Vidas sem Rumo ou Saltimbancos, que só foi possível concluir após violentos cortes impostos pela censura, resultando numa obra estranhamente críptica. Falecido a 29 de Janeiro de 1975, Guimarães teve pouco tempo de vida para criar em liberdade, mas a sua obra merece um olhar atento e merece ser descoberta pelas gerações mais novas.

Para além de um notável cineasta, o Manuel Guimarães era um homem maravilhoso, um grande amigo e meu padrinho de casamento. Ele e a sua mulher eram uma companhia excelente e, quando se tratava de "comes e bebes", então nem se fala! Foi com ele que comi pela primeira vez papas de sarrabulho, na Flor dos Congregados, no Porto (ele era homem do norte) e para sempre lhe fico grata pela descoberta.
Mas, e afinal, a que vêm as sardinhas?
Foi numa noite de Santo António, em Alfama, num grupo animado. Eu pedi febras. O Manel espantou-se: "E então as sardinhas?" E eu: "Nunca comi, não gosto..." "Tenha mas é juízo e coma sardinhas! Ora esta!"
E afinal gosto de sardinhas. Gosto imenso de sardinhas. Nunca mais deixei de as comer, pontualmente, todos os anos pelo Santo António e por todos os outros santos enquanto dura o tempo delas. Comi este fim de semana umas excelentes, gordinhas, bem assadas, a largar a pele. A época já deve estar a chegar ao fim, mas para o ano há mais.
Obrigada, Manuel Guimarães!

terça-feira, setembro 13, 2011

Corta-se na cultura? Mata-se a cultura? "Ai minha pátria bela e perdida"



No dia 12 de Março deste ano, a Itália festejou o 150º aniversário da sua unificação.
Entre as muitas comemorações, foi apresentada na Ópera de Roma "Nabucco", de Giuseppi Verdi, dirigida pelo maestro Ricardo Muti.
No início do espectáculo, Gianni Alemanno, presidente da câmara municipal de Roma, membro do governo de Berlusconi, usou da palavra num discurso político onde referiu os cortes que o governo se vira obrigado a fazer no orçamento para a cultura.
De seguida, o público assistiu à representação da ópera. Nada a assinalar, até ao famoso coro Va Pensiero, em que os escravos cantam "Ó pátria minha, bela e perdida..." .
Aí deixemos falar a gravação e o maestro Ricardo Muti. Vale a pena.
Apenas uma única vez Muti havia aceitado fazer um bis de Va Pensiero, no Scala de Milão, em 1986, já que a peça exige que seja executada do princípio ao fim, sem interrupções. Muti não queria fazer apenas um bis, teria que haver uma intenção especial para fazê-lo. Então, voltou-se para o público - entre o qual se encontrava Berlusconi - e disse: "Logo que cessaram os gritos de bis, vocês começaram a gritar "longa vida à Itália!". Sim, de acordo: longa vida à Itália. Mas... Já não tenho trinta anos e já vivi a minha vida. Andei pelo mundo todo e, hoje, tenho vergonha do que acontece no meu país. Por isso, vou aceitar os pedidos para bisar Va Pensiero. Não só pela alegria patriótica que sinto neste momento mas, porque enquanto dirigia o coro que cantava "Ai minha pátria bela e perdida" pensei que, se continuarmos assim, vamos matar a cultura sobre a qual erguemos a história da Itália. E, nesse caso, a nossa pátria também estaria bela e perdida. Durante anos mantive a boca fechada mas agora creio que precisaríamos de dar sentido a este canto: estamos na nossa casa, o Teatro de Roma, com o coro que cantou magnificamente e com a orquestra que o acompanhou esplendidamente. Se quiserem, proponho que vocês que se unam a nós para que cantemos todos juntos".

Uma boa surpresa

Normalmente sou uma leitora atenta ao que se escreve e edita, principalmente em Portugal. Leio muito. Direi mesmo que leio compulsivamente. Leio até bula de medicamento e manual de instruções. E, no entanto, não conhecia José Rentes de Carvalho. Culpa minha, por distracção, mas culpa também, não tenho dúvida, da oferta editorial portuguesa, que nunca me tinha cativado para o autor. Regozijo-me, pois, por a Quetzal ter agora dado merecida visibilidade a este Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia.
Trata-se de uma recolha de contos, que por vezes se assemelham mais a crónicas daquelas em que os brasileiros são exímios, e que, no caso de Rentes de Carvalho, nos levam, num português rico e bem apaladado com o sabor da melhor tradição literária (o próprio confessa que Eça é e será sempre o seu preferido), por recordações e ficções sugeridas pelo tempo já muito vivido de Rentes de Carvalho.
São trinta histórias que se lêm com um prazer por vezes divertido e por vezes emocionado, quase sem se dar por isso. Viajamos por lugares que são muito nossos - Lisboa do Chiado, as aldeias do Minho e do Douro, Paris dos portugueses, o Rio e S.  Paulo - e muito dele - a Holanda, onde tem vivido grande parte da sua vida.
Um dos aspectos mais fascinantes da escrita de Rentes de Carvalho é a extrema flexibilidade com que ela se "cola" ao local onde decorre a história, o mimetismo que nos vicia na narrativa, nos prende e nos faz viajar. E, com a crise que por aqui vai, Deus seja louvado pelos escritores que nos fazem viajar.

José Rentes de Carvalho nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1930. Frequentou o curso de Românicas e Direito em Lisboa. Teve de deixar o país devido a motivos políticos, tendo vivido no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris e, trabalhado para publicações como O Estado de São Paulo, O Globo e a revista O Cruzeiro. Licenciou-se na Universidade de Amesterdão, onde foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. É autor de livros como Montedor (1968), O Rebate (1971), A Sétima Onda (1984), Ernestina (1998), A Amante Holandesa (2003) e Portugal - Um Guia para Amigos (1988).

domingo, setembro 11, 2011

No país das maravilhas

Não gosto de sopa, é um facto. Não gosto nem um bocadinho de sopa. Mas gosto muito de caldo verde. Por isso foi com natural satisfação, e mesmo emoção, que verifiquei ontem que o caldo verde foi o grande vencedor das 7 Maravilhas Gastronómicas de Portugal - secção sopas. Sim, não foi a desgraçada sopa de legumes, nem a odiada sopa de feijão. Não, foi o caldo verde! Sinto-o como se fosse uma vitória minha. Quanto às outras maravilhas, subscrevo: desde as incontornáveis sardinhas ao mítico pastel de Belém, têm todas o meu aplauso!
Mas se querem saber tudo sobre o assunto, com saber de cátedra, então não deixem de ler aqui. Maravilhas é com ela!
(Lamento, mas mas não dispunha de foto e esta foi, com a devida vénia, roubada na net, aqui. )

domingo, julho 10, 2011

FESTIVAL DE ALMADA

Nesta época do ano, Almada brinda-nos com o Festival de Teatro. Casas cheias, frequência de todas as idades e todos os estilos, diversidade de programação e um ambiente absolutamente fantástico tornam esta festa do teatro um prazer para os olhos e para as mentes tão atormentadas com a crise e a falta de dinheiro. É que isso também conta: não é caro ir ao Festival e há preços especiais para jovens, para seniores e para profissionais do espectáculo.

Mas se falamos de pontos fortes, é claro que, acima de tudo, é indispensável referir a programação, da responsabilidade do director do festival, Joaquim Benite, homem determinado, que decidiu fazer face às dificuldades económicas e "tirar do chapéu" uma programação magnífica, não ficando em nada a dever ao brilho de outros anos mais "abastados".

Esta 28ª edição do Festival de Almada é dedicada à Commedia dell'Arte e homenageia Ferruccio Soleri, o actor mítico do Piccolo di Milano.




Ainda vão a tempo. O Festival estende-se com programação de luxo até ao dia 18 deste mês e as sessões realizam-se, para além de Almada, em diversas salas de Lisboa. O programa pode ser consultado na comunicação social ou no site do Teatro de Almada.


É um enorme prazer ver como o teatro pode ser uma grande festa!

sexta-feira, julho 08, 2011

300 KM

No Alfa ou no Intercidades, é um instantinho, com todo o conforto e eficácia.
No Porto, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Lauro António apresenta "Invicta Filmes", ciclos de cinema clássico.
Toda a informação em invictafilmes.blogspot.com.

A série agora em exibição, dedicada aos "anos da depressão" (a outra, a antiga), está neste momento a mostrar uma magnífica colecção de filmes de gangsters, com aqueles de que nós gostamos, o Bogart, o Cagney... (não inclui as agências de rating, não).



Vai seguir-se uma série sobre o humor "marxista tendência Groucho". Surrealista e genial. Rir será sempre uma receita possível para não chorar.


Ainda o São João. Na Biblioteca Almeida Garrett, uma "cascata" feita por miúdos de várias escolas - desde os 3 anos! Com materiais reciclados e muita imaginação e criatividade.

A tranquilidade com mar ao fundo.

sexta-feira, junho 10, 2011

10 DE JUNHO COM DEDICATÓRIA



"Só o amor, e não a razão, é mais forte do que a morte."

Thomas Mann

PORQUE HOJE É 10 DE JUNHO, VERGÍLIO FERREIRA PARA SEMPRE


Pensar o Meu País

Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"



De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tínhamos pensado, pensáramos apenas os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem de se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser ignorante, incompetente e tudo o mais que se pode acrescentar ao estado em bruto. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de se ser grosseiro, sem ao menos se ter o rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O Espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um ser artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave de coco, mas que assume a gravidade e o ridículo que vier nela. Nós somos sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguista, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco — e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?



10 DE JUNHO

Em tempos muito recuados e de recordações que misturam a inocência de todas as descobertas com os tons cinzentos e pesados da ausência de liberdade e de justiça, o "10 de Junho" era o "dia da raça" e as meninas e meninos de todo o país desfilavam, "cantando e rindo", com a farda da Mocidade Portuguesa, no Estádio Nacional. Se alguém da auto-designada "geração à rasca" ler estas palavras, achará certamente que me estou a referir a um outro país, a um outro planeta ou mesmo a uma outra galáctica. Mas não, é mesmo verdadinha! Depois a designação foi sofrendo várias alterações e o dia passou a homenagear Portugal, Camões e as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

Hoje, creio que o 10 de Junho deve homenagear os sobreviventes, os que navegam diariamente um oceano de incertezas, que enfrentam o Adamastor do FMI; que descobrem a 1002ª receita para cozinhar bacalhau: só com as batatas; que procuram, apesar de tudo, fazer humor com a palavra crise; que lamentam não poder aproveitar melhor as miniférias de Julho e só terem dinheiro para uma curta estadia no Algarve - com código de barras 560, que é nosso, é português.

sábado, abril 09, 2011

DESCOBERTAS

Depois de ter passado semanas completamente submersa em trabalho(s), com uma particular intensidade nos últimos dias, em que me afastei de tudo o que era mundo, subitamente deslumbrada descobri...

... que a primavera tinha chegado ao Porto... ... que neste nosso país maravilhoso o sol se põe no mar... ... que em Espinho já era verão... ... e que ser feliz é possível.

sábado, março 05, 2011

ERA PARA SER DE CARNAVAL...

Era para ser um post de Carnaval, mas não é.
Andava à procura de fotografias de Carnavais passados, já que os actuais não são o cúmulo da animação, mas em vez delas, vieram-me à mão estas - Paris 1966. Eu própria, é verdade! Não era exactamente Carnaval, creio que seria Agosto. De qualquer modo, lembro-me bem do risco que era trazer, na viagem de regresso, no Sud-Express, um volume das obras completas de Karl Marx, numa edição da Pléiade, encomendado por um amigo. Havia que ter uns certos cuidados, arrumá-lo na mala, bem disfarçado no meio da roupa, e esperar que a minha bagagem não suscitasse o interesse da Pide e não fosse revistada. Ora só quando, já em Portugal, os inspectores da Pide, com as suas "diplomáticas" luvas brancas, entraram no compartimento é que me lembrei que não tinha guardado o livro na mala e que ele estava ali mesmo, na rede por cima do meu lugar, à vista de todos. Gelei... e esperei. Mandaram-me descer as malas e abri-las, revistaram tudo, revolveram as roupas... agradeceram e saíram. Não olharam para a rede, por cima do meu lugar.




domingo, fevereiro 27, 2011

NOITE DE OSCARS

Vincent Van Gogh - Starry Night.

Dentro de algumas horas a noite será de estrelas a desfilar pela passadeira de todas as vaidades. Já reservei o meu lugar bem em frente da tv. E agora, é aguardar. Aceitam-se apostas. Espelho meu, espelho meu... quem tem mais razão do que eu?

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

14 DE FEVEREIRO



Roubado a um blog amigo, para homenagear os apaixonados (por alguém, pela vida, pelo planeta, pelos amigos, pela literatura, pelo cinema, pela música, etc, etc.) que visitam este cantinho hoje, Dia de S. Valentim.

domingo, fevereiro 13, 2011

O CISNE NEGRO

Uma mensagem de “anónimo” lembrou-me que há muito que este blog se encontra adormecido. E então, na calma do fim-de-semana, aqui fica um post sobre um tema já um pouco requentado, mas ainda a tempo.

Como qualquer história, a do Capuchinho Vermelho pode ser contada sob diversas perspectivas. Versão 1: é a história de uma sénior que estava recolhida no seu leito, adoentada, quando foi barbaramente devorada por um lobo esfomeado que entrou pela porta dentro. E isto porque a tonta da neta da senhora deu conversa ao primeiro que lhe apareceu pelo caminho e disse que a avó estava de cama e sózinha. Versão 2: é a história de um lobo que acabava de se banquetear com uma lauta refeição já um bocadinho fora do prazo quando um caçador intempestivo, sem querer ouvir argumentos, tipo Jack Bauer, resolveu fazer justiça. Versão 3: é a história de um corajoso caçador que põe fim à agonia de uma indefesa velhinha, libertando-a da barriga de um perigoso assaltante disfarçado de lobo mau. E ainda se arranjavam mais umas versões, mas já chega.

E, após esta introdução, posso passar ao tema deste post. O Cisne Negro.
O Cisne Negro é a história de uma antiga bailarina que abandonou a carreira para ser mãe. Tendo desistido da sua vida, profissional e pessoal, pela filha, cobra desta esse preço, com pesados juros, exigindo que ela seja a melhor, a mais famosa e deslumbrante bailarina de sempre, nem que para tal tenha de sacrificar toda a sua existência, sem concessões nem desfalecimentos. Afinal não foi isso que ela própria fez? Pois então está na altura de a filha a compensar pela vida que ela perdeu. No final, a mais completa felicidade ilumina o rosto da mãe, embriagada pelo estrondoso sucesso, no meio de uma plateia em delírio, mesmo que o preço seja a vida da filha, consagrando a glória a que ela própria se considerava com direito.
História velha como o mundo. No cinema vem já desde Belíssima, obra-prima de Visconti, passando por alguns outros títulos, em diversas cinematografias. Na vida real ela vem aparecendo cada vez mais, fruto dos programas de ídolos e afins. Velha como o mundo, mas, se considerarmos os amores e ódios que o filme provoca, capaz de despertar muitas paixões contraditórias.

Mãe castradora e doentiamente controladora, a antiga bailarina conduz rapidamente a filha a um estado de esquizofrenia grave, com desdobramento de personalidade e instintos auto-mutiladores. (O recurso constante aos espelhos para reforçar esse desdobramento de personalidade é um “cliché”, aqui bem enquadrado pela necessidade dos espelhos como ferramenta de trabalho.) Sempre dentro de casa, no seu luto negro pela vida perdida, ela concentra toda a sua energia em conservar intacto e virginal o casulo em que a filha é impedida de crescer e vigia no seu corpo, nos seus gestos, nas suas alterações de humor, nos seus gostos e apetites qualquer indício que a possa colocar na pista de uma eventual tentativa de fuga da caixinha de música onde ela dança, sem descanso, um eterno Lago dos Cisnes.
Mas, apesar da vigilância apertada, a filha escapa-se. E quando o faz é em explosão total. Incapaz de lidar com um mundo que a mãe tornou tabu, ela vai esbarrar fatalmente contra todos os espelhos que encontra no seu caminho – os de vidro e os humanos –, com consequências dramáticas. A multiplicidade de rostos – rostos com máscaras, rostos auto-mutilados, rostos transfigurados pelas drogas, pelo álcool, pela luxúria – é como uma galeria de fotografias do seu próprio rosto, que ela reconhece para logo de seguida recusar. Justificar completamente
E o que fica, de uma vida destroçada em mil lascas de espelho? A perfeição finalmente atingida. O rosto finalmente iluminado da antiga bailarina, agora liberta da sua rival de toda a vida.
Não é esta a história? Não? É a história de Nina, uma bailarina que...? Sintam-se, então, à vontade para contar a vossa versão.
A mim, o filme deixa-me bastante indiferente. Nem “Mata! Mata!”, nem “Oscar! Oscar!”. Mas é uma simples opinião de espectadora de cinema. Pouco importante. Aos especialistas a tarefa de se pronunciarem sobre aspectos mais específicos.Por mim, este ano os Oscars ficavam para o Acumulado, para o próximo ano.