terça-feira, setembro 13, 2011

Uma boa surpresa

Normalmente sou uma leitora atenta ao que se escreve e edita, principalmente em Portugal. Leio muito. Direi mesmo que leio compulsivamente. Leio até bula de medicamento e manual de instruções. E, no entanto, não conhecia José Rentes de Carvalho. Culpa minha, por distracção, mas culpa também, não tenho dúvida, da oferta editorial portuguesa, que nunca me tinha cativado para o autor. Regozijo-me, pois, por a Quetzal ter agora dado merecida visibilidade a este Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia.
Trata-se de uma recolha de contos, que por vezes se assemelham mais a crónicas daquelas em que os brasileiros são exímios, e que, no caso de Rentes de Carvalho, nos levam, num português rico e bem apaladado com o sabor da melhor tradição literária (o próprio confessa que Eça é e será sempre o seu preferido), por recordações e ficções sugeridas pelo tempo já muito vivido de Rentes de Carvalho.
São trinta histórias que se lêm com um prazer por vezes divertido e por vezes emocionado, quase sem se dar por isso. Viajamos por lugares que são muito nossos - Lisboa do Chiado, as aldeias do Minho e do Douro, Paris dos portugueses, o Rio e S.  Paulo - e muito dele - a Holanda, onde tem vivido grande parte da sua vida.
Um dos aspectos mais fascinantes da escrita de Rentes de Carvalho é a extrema flexibilidade com que ela se "cola" ao local onde decorre a história, o mimetismo que nos vicia na narrativa, nos prende e nos faz viajar. E, com a crise que por aqui vai, Deus seja louvado pelos escritores que nos fazem viajar.

José Rentes de Carvalho nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1930. Frequentou o curso de Românicas e Direito em Lisboa. Teve de deixar o país devido a motivos políticos, tendo vivido no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris e, trabalhado para publicações como O Estado de São Paulo, O Globo e a revista O Cruzeiro. Licenciou-se na Universidade de Amesterdão, onde foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. É autor de livros como Montedor (1968), O Rebate (1971), A Sétima Onda (1984), Ernestina (1998), A Amante Holandesa (2003) e Portugal - Um Guia para Amigos (1988).

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