domingo, novembro 18, 2007

172. VIVER MAIS E MELHOR - receita de 1911


O meu avô tinha uma pequenina biblioteca, no seu quarto, independente das outras estantes de livros que havia lá em casa. Era uma escolha eclética e assaz bizarra: alguns livros de André Brun e Gervásio Lobato (em especial Lisboa em Camisa); umas duas ou três biografias, não me lembro já de quem; um volumezinho com vidas de santos e outro intitulado Os Milagres de Santo António; dois manuais do perfeito charadista (actividade que ele exercia com grande mérito) e A Vida ao Ar Livre, de J.P. Müller (1911).
Foi neste último, a páginas 99, que deparei com um capítulo cujo título me chamou a atenção - Duração normal da vida humana - e que passo a citar parcialmente, mantendo a ortografia da época.
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"Antes de responder, devo declarar que não dou ao vocábulo "normal" a significação que lhe dá muitas vezes a sciencia, e principalmente a estatística: não o considero sinonimo de "média". Por duração "normal", entendo "duração indicada pela natureza".Segundo a opinião dos individuos que se teem entregado ao estudo d'esta questão, a duração normal da vida humana, varia entre 80 e 140 annos.
A meu ver, o individuo que vive em condições ideaes e higienicamente desde que nasceu, tem grandes probabilidades de não morrer antes dos 150 annos. Vou demonstral-o por antithese."
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"Quando andámos no collegio fomos obrigados a respirar em atmospheras viciadas: é esta a razão por que a maior parte dos homens actualmente vivos não pode esperar viver até aos 140 annos. Pode comtudo, direi mais, deve trabalhar para melhorar as condições da vida publica e privada, de maneira que a mocidade de hoje possa aproximar-se d'esse ideal.
espaço

Nietzche

Nietzche tem muita razão quando diz que o desgosto de viver e a falta de vitalidade da actual geração teem por causa a pesada atmosphera de estufa e de "cave" que todos nós respiramos. Se respirassemos constantemente ar puro, é quasi certo que o hábito de bebermos uma pequena porção de vinho ou cerveja e de fumarmos um ou dois charutos por dia - prazeres que nos dão uma grande sensação de bem-estar e nos conservam bem dispostos - é quasi certo, dizia eu, que esse habito não poderia, praticamente, diminuir de maneira sensivel o numero de annos de vida.

Os rapazes pallidos e adoentados não devem esse estado aos "excessos" que praticam, mas sim ás estadas prolongadas nas atmospheras empestadas dos cafés e á insufficiencia do somno nocturno."

E pronto, aqui fica para reflexão. Eu já desconfiava que o estado do ensino era responsável por uma data de coisas! O livrinho tem outros capítulos cujos títulos são igualmente apelativos, como Meias "de ar" e camisas de dormir "de ar", mas não conto mais. O meu avô não viveu até aos 140, mas chegou ágil fisica e mentalmente aos 88. Fumava uma marca de cigarros chamada Craven A, de que ainda restam lá por casa uma ou outra caixa, de metal, vermelha, com um gato preto. Mas deixou de fumar quando eu nasci.

7 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Vale bem a pena reler livros antigos e tomar nota dos conselhos e da filosofia de vida que neles está patente! :)
No meu caso, dada a minha profissão, sou capaz de não durar até aos 140-150..., mas se chegar aos 80, fico feliz! :) É uma óptima sugestão para umas aulas ao ar livre!
Bjs

Maria Eduarda Colares disse...

Mas nada de cafés nem de caves! O caso do meu avô foi por viver num 4º andar, de certeza! E principalmente dois charutos por dia!
bjs

Isabel Victor disse...

:))

Olá Eduarda ! Beijos *****

Ouriço disse...

E as maçãs, não esquecer as maçãs!
bjs

intruso disse...

excelente post composto (e saudavel, portanto)
;)

[eu não fumo, habitualmente]


beijo
(de volta...
mais apetecia ficar por lá mais algum tempo)

Isabel Victor disse...

E ... matar saudades. E SOL ! Também ajuda a viver melhor !


Beijo*

tolilo disse...

passei por aqui...

Detesto sopa,

também!


Chuac!