terça-feira, setembro 20, 2011

Sardinhas & Cinema

foto d'aqui

Não gosto de sopa, mas gosto de sardinhas. Gosto mesmo muito de sardinhas. E o que têm as sardinhas a ver com o cinema?
O Manuel Guimarães foi um grande homem de cinema, um realizador que, infelizmente, não tem visto reconhecido o seu mérito, seriedade e talento.  Graças ao esforço da Costa do Castelo, a sua obra teve recentemente edição em DVD e os que o não conhecem têm agora a oportunidade de ver filmes como Nazaré, Vidas sem Rumo ou Saltimbancos, que só foi possível concluir após violentos cortes impostos pela censura, resultando numa obra estranhamente críptica. Falecido a 29 de Janeiro de 1975, Guimarães teve pouco tempo de vida para criar em liberdade, mas a sua obra merece um olhar atento e merece ser descoberta pelas gerações mais novas.

Para além de um notável cineasta, o Manuel Guimarães era um homem maravilhoso, um grande amigo e meu padrinho de casamento. Ele e a sua mulher eram uma companhia excelente e, quando se tratava de "comes e bebes", então nem se fala! Foi com ele que comi pela primeira vez papas de sarrabulho, na Flor dos Congregados, no Porto (ele era homem do norte) e para sempre lhe fico grata pela descoberta.
Mas, e afinal, a que vêm as sardinhas?
Foi numa noite de Santo António, em Alfama, num grupo animado. Eu pedi febras. O Manel espantou-se: "E então as sardinhas?" E eu: "Nunca comi, não gosto..." "Tenha mas é juízo e coma sardinhas! Ora esta!"
E afinal gosto de sardinhas. Gosto imenso de sardinhas. Nunca mais deixei de as comer, pontualmente, todos os anos pelo Santo António e por todos os outros santos enquanto dura o tempo delas. Comi este fim de semana umas excelentes, gordinhas, bem assadas, a largar a pele. A época já deve estar a chegar ao fim, mas para o ano há mais.
Obrigada, Manuel Guimarães!

terça-feira, setembro 13, 2011

Corta-se na cultura? Mata-se a cultura? "Ai minha pátria bela e perdida"



No dia 12 de Março deste ano, a Itália festejou o 150º aniversário da sua unificação.
Entre as muitas comemorações, foi apresentada na Ópera de Roma "Nabucco", de Giuseppi Verdi, dirigida pelo maestro Ricardo Muti.
No início do espectáculo, Gianni Alemanno, presidente da câmara municipal de Roma, membro do governo de Berlusconi, usou da palavra num discurso político onde referiu os cortes que o governo se vira obrigado a fazer no orçamento para a cultura.
De seguida, o público assistiu à representação da ópera. Nada a assinalar, até ao famoso coro Va Pensiero, em que os escravos cantam "Ó pátria minha, bela e perdida..." .
Aí deixemos falar a gravação e o maestro Ricardo Muti. Vale a pena.
Apenas uma única vez Muti havia aceitado fazer um bis de Va Pensiero, no Scala de Milão, em 1986, já que a peça exige que seja executada do princípio ao fim, sem interrupções. Muti não queria fazer apenas um bis, teria que haver uma intenção especial para fazê-lo. Então, voltou-se para o público - entre o qual se encontrava Berlusconi - e disse: "Logo que cessaram os gritos de bis, vocês começaram a gritar "longa vida à Itália!". Sim, de acordo: longa vida à Itália. Mas... Já não tenho trinta anos e já vivi a minha vida. Andei pelo mundo todo e, hoje, tenho vergonha do que acontece no meu país. Por isso, vou aceitar os pedidos para bisar Va Pensiero. Não só pela alegria patriótica que sinto neste momento mas, porque enquanto dirigia o coro que cantava "Ai minha pátria bela e perdida" pensei que, se continuarmos assim, vamos matar a cultura sobre a qual erguemos a história da Itália. E, nesse caso, a nossa pátria também estaria bela e perdida. Durante anos mantive a boca fechada mas agora creio que precisaríamos de dar sentido a este canto: estamos na nossa casa, o Teatro de Roma, com o coro que cantou magnificamente e com a orquestra que o acompanhou esplendidamente. Se quiserem, proponho que vocês que se unam a nós para que cantemos todos juntos".

Uma boa surpresa

Normalmente sou uma leitora atenta ao que se escreve e edita, principalmente em Portugal. Leio muito. Direi mesmo que leio compulsivamente. Leio até bula de medicamento e manual de instruções. E, no entanto, não conhecia José Rentes de Carvalho. Culpa minha, por distracção, mas culpa também, não tenho dúvida, da oferta editorial portuguesa, que nunca me tinha cativado para o autor. Regozijo-me, pois, por a Quetzal ter agora dado merecida visibilidade a este Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia.
Trata-se de uma recolha de contos, que por vezes se assemelham mais a crónicas daquelas em que os brasileiros são exímios, e que, no caso de Rentes de Carvalho, nos levam, num português rico e bem apaladado com o sabor da melhor tradição literária (o próprio confessa que Eça é e será sempre o seu preferido), por recordações e ficções sugeridas pelo tempo já muito vivido de Rentes de Carvalho.
São trinta histórias que se lêm com um prazer por vezes divertido e por vezes emocionado, quase sem se dar por isso. Viajamos por lugares que são muito nossos - Lisboa do Chiado, as aldeias do Minho e do Douro, Paris dos portugueses, o Rio e S.  Paulo - e muito dele - a Holanda, onde tem vivido grande parte da sua vida.
Um dos aspectos mais fascinantes da escrita de Rentes de Carvalho é a extrema flexibilidade com que ela se "cola" ao local onde decorre a história, o mimetismo que nos vicia na narrativa, nos prende e nos faz viajar. E, com a crise que por aqui vai, Deus seja louvado pelos escritores que nos fazem viajar.

José Rentes de Carvalho nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1930. Frequentou o curso de Românicas e Direito em Lisboa. Teve de deixar o país devido a motivos políticos, tendo vivido no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris e, trabalhado para publicações como O Estado de São Paulo, O Globo e a revista O Cruzeiro. Licenciou-se na Universidade de Amesterdão, onde foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. É autor de livros como Montedor (1968), O Rebate (1971), A Sétima Onda (1984), Ernestina (1998), A Amante Holandesa (2003) e Portugal - Um Guia para Amigos (1988).

domingo, setembro 11, 2011

No país das maravilhas

Não gosto de sopa, é um facto. Não gosto nem um bocadinho de sopa. Mas gosto muito de caldo verde. Por isso foi com natural satisfação, e mesmo emoção, que verifiquei ontem que o caldo verde foi o grande vencedor das 7 Maravilhas Gastronómicas de Portugal - secção sopas. Sim, não foi a desgraçada sopa de legumes, nem a odiada sopa de feijão. Não, foi o caldo verde! Sinto-o como se fosse uma vitória minha. Quanto às outras maravilhas, subscrevo: desde as incontornáveis sardinhas ao mítico pastel de Belém, têm todas o meu aplauso!
Mas se querem saber tudo sobre o assunto, com saber de cátedra, então não deixem de ler aqui. Maravilhas é com ela!
(Lamento, mas mas não dispunha de foto e esta foi, com a devida vénia, roubada na net, aqui. )