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Não gosto de sopa, mas gosto de sardinhas. Gosto mesmo muito de sardinhas. E o que têm as sardinhas a ver com o cinema?
O Manuel Guimarães foi um grande homem de cinema, um realizador que, infelizmente, não tem visto reconhecido o seu mérito, seriedade e talento. Graças ao esforço da Costa do Castelo, a sua obra teve recentemente edição em DVD e os que o não conhecem têm agora a oportunidade de ver filmes como Nazaré, Vidas sem Rumo ou Saltimbancos, que só foi possível concluir após violentos cortes impostos pela censura, resultando numa obra estranhamente críptica. Falecido a 29 de Janeiro de 1975, Guimarães teve pouco tempo de vida para criar em liberdade, mas a sua obra merece um olhar atento e merece ser descoberta pelas gerações mais novas.
Para além de um notável cineasta, o Manuel Guimarães era um homem maravilhoso, um grande amigo e meu padrinho de casamento. Ele e a sua mulher eram uma companhia excelente e, quando se tratava de "comes e bebes", então nem se fala! Foi com ele que comi pela primeira vez papas de sarrabulho, na Flor dos Congregados, no Porto (ele era homem do norte) e para sempre lhe fico grata pela descoberta.
Mas, e afinal, a que vêm as sardinhas?
Foi numa noite de Santo António, em Alfama, num grupo animado. Eu pedi febras. O Manel espantou-se: "E então as sardinhas?" E eu: "Nunca comi, não gosto..." "Tenha mas é juízo e coma sardinhas! Ora esta!"
E afinal gosto de sardinhas. Gosto imenso de sardinhas. Nunca mais deixei de as comer, pontualmente, todos os anos pelo Santo António e por todos os outros santos enquanto dura o tempo delas. Comi este fim de semana umas excelentes, gordinhas, bem assadas, a largar a pele. A época já deve estar a chegar ao fim, mas para o ano há mais.
Obrigada, Manuel Guimarães!