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Eram nove e meia da manhã e eu reconheço que tenho um péssimo feitio ao acordar, mas quando informei a pessoa que me impediu a entrada nos serviço de urgência de que dispunha de elementos sobre a doente que talvez fosse bom comunicar ao médico, não o fiz por vontade de embirrar, mas porque achei, muito sinceramente, que poderia ser útil partilhar informações que eu tinha e a própria não se encontrava em estado de comunicar.
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A médica, após ouvir a explicação que eu trazia engatilhada desde as nove e meia da manhã, exclamou com ar de evidente alívio: "Ah, então é isso? Pois é que se eu soubesse nem tinha sido preciso fazer tantos exames, que são demorados! Agora estou a ver." E mandou-me voltar daí a hora e meia, duas horas porque a doente já poderia ter alta. Quando saía, ao passar pela sala de espera, uma "acompanhante" gritava para uma idosa obviamente sedada: "Ena pá, 'tás c'uma moca do camandro!" e perante a indiferença da própria: "'Tás pedrada de todo!".
Passada a tal hora e meia, voltei. O panorama não mudara. O número de pessoas que tossiam cavernosa e compulsivamente na sala de espera aumentara consideravelemente, assim como as probabilidades de contágio.
Enquanto a minha filha preenchia o livro de reclamações, a doente foi-me entregue, com alta (e com uma moca do caraças, diga-se de passagem). Enquanto esperava pelo papel da dita alta, sentei-me um pouco numa cadeira (eram oito da noite e estava cansada). De imediato senti qualquer coisa fria e molhada repassar-me as calças. Levantei-me e tentei identificar o fluído pastoso e da cor da madeira, perfeitamente camuflado com a cadeira. Um auxiliar acorreu, prestável e optimista: "Não se preocupe, é sopa."
Enquanto a minha filha preenchia o livro de reclamações, a doente foi-me entregue, com alta (e com uma moca do caraças, diga-se de passagem). Enquanto esperava pelo papel da dita alta, sentei-me um pouco numa cadeira (eram oito da noite e estava cansada). De imediato senti qualquer coisa fria e molhada repassar-me as calças. Levantei-me e tentei identificar o fluído pastoso e da cor da madeira, perfeitamente camuflado com a cadeira. Um auxiliar acorreu, prestável e optimista: "Não se preocupe, é sopa."
SOPA! Eu tinha-me sentado numa cadeira cujo assento estava coberto de SOPA!
E do Mac Dreamy, nem sombras!
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13 comentários:
Acho que ficaste c'ma moca do camandro, minha! Que é que esperavas, minha? Pois, o que te safa é teres um maridinho good, que te leva ao Strauss, disso não falas, minha!
Pois, o Strauss pareceu-me o próprio paraíso, em russo e sem sopa. E um maridinho é sempre um valor seguro no meio destes enredos kafkianos.
Obrigada.
ó MEC, no meio da desgraça achei piada à sopa... :))))
só podia acabar assim :)
espero que a senhora teimosa esteja melhor.
um enorme abraço para ti.
"foi você que pediu um Porto Ferreira?"
fica sempre bem a ouvir Strauss e uma cigarrilha pois então!
A parte da sopa é.... pouco agradável, para não dizer outra coisa!
Azares assim tão grandes são sempre seguidos de grande fortuna, verá. Por vezes acontece-me isso. Umas por azar, outras por azelhiçe minha mas, regra geral, acabamos por ser recompensados...
beijos, sempre grandes, do
Helder
excelente etão verdadeiro...
já passei por situações semelhantes e ainda mais kafkianas.
Num hospital privado. O da Luz.
E também no São Francisco Xavier.
E também no S. José............
cada vez vai ser pior..........
bj
'ganda moca.
situações inacreditáveis
(melhoras!
e que tudo esteja mais calmo)
bj
Obrigada, Bandida. Infelizmente as esperanças são nulas.
Mas diz lá se a sopa não é uma ameaça na minha vida?
Beijo
Obrigada, Helder. O que é preciso é optimismo.
Beijos gratos
casa de passe, obrigada pela solidariedade. Inacreditável e, contudo vero,
verissimo!
bj
intruso, agora, conquistado um lugar ao sol do privado, a coisa é mais vivível.
beijo
Bem!
Que filme....
bjs
Que filme!!
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