domingo, fevereiro 03, 2008

CARNAVAIS

Rio de Janeiro

Hoje por lá é a loucura. E ainda mal começou. Por cá está cinzento e triste com um arremedo de sol de vez em quando, no meio da chuva. Um tempinho de Carnaval a preceito. Daqueles que eu conheço desde que, muito pequena ainda, sonhava com folias carnavalescas nunca cumpridas.
Adorava mascarar-me, mas, por uma qualquer birra do destino, estava invariavelmente doente no Carnaval. A gripe, o resfriado, a dor de garganta, a febre não faltavam nunca aos festejos. E eu ficava de cama enquanto os meninos e as meninas exibiam os seus trajos de Entrudo na Avenida da Liberdade. Exactamente: na nossa avenida, de todos os lisboetas, excepto minha, que ficava a beber chá de limão, a tomar colheres de xarope para a tosse e a maldizer o destino.
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(Não encontrei as clássicas crianças do DN, mas não eram muito diferentes destas)
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Após subirem a Avenida os meninos e meninas da minha cidade iam à redacção do Diário de Notícias para serem fotografados e lá apareciam, nas páginas do prestigiado matutuino, de criadas de servir, magalas, varinas estilizadas, minhotas, cozinheiros, toureiros e campinos. Mal se percebiam, na tosca montagem fotográfica (vinha longe o photoshop), mas eu achava que eles eram muito felizes.
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Eu queria mesmo era vestir-me de princesa, ou dama-antiga, ou qualquer coisa, desde que tivesse uma enorme saia rodada, com imensos folhos e rendas. Mas não tive sorte. Vestiram-me uma vez, uma única... à moda do Minho, que não é fantasia nenhuma, como se sabe, e que não me deixou lá muito feliz! Mas fui à matiné infantil do São Luiz e do Coliseu e não houve princesa nem dama antiga que se tivesse divertido mais, brincado mais e feito mais barulho do que a pleibeia minhota. Mas foi o único Carnaval digno desse nome e tinha eu cinco anos.
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Quem veio a pagar caro esta minha abstinência foi a família, que não escapou um único Carnaval às fantasias mais elaboradas. Mas não se queixavam.

Sim, é verdade, fomos assim jantar à Casa da Comida e a uma festa na Comuna.

São dessa época os Carnavais das festas com os amigos, em que se reuniam para cima de 40 crianças, mais os respectivos progenitores. Depois, emancipadas as crianças, foi o tempo dos Carnavais do Casino do Estoril, de ouvir Fafá até à nausea.
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"Meu coração é vermelho, hei, hei, hei
De vermelho vive o coração, ê, ô, ê, ô
Tudo é garantido após a rosa vermelhar
Tudo é garantido após o sol vermelhecer"


O genuíno, o do Rio, nunca me seduziu - a bagunça deve ser infernal demais. Veneza? Talvez um dia, sabe-se lá. Por agora, Lisboa sem Carnaval, até porque o M. pequeno, de Homem-Aranha, pois claro, está para fora, noutros carnavais... mas desfilou na Graça, na rua, com a escola. Ah, pois! Alguém há-de vingar os meus carnavais com gripe!

6 comentários:

Ouriço disse...

Adorei.

Isabel Victor disse...

Que maravilha, estes carnavais com " estórias ". Estes belos carnavais do coração eh eh eh ...

Um beijo festivo
(emplumado, em traje de luzes ...)

iv *

Anónimo disse...

A ideia do Baile de Máscaras seduz-me muito! De resto, a rua... nem por isso. Beijos!

Luis Eme disse...

Eu gosto de sopa...

e gosto de histórias bonitas, com gente, como esta...

abraço

Ida disse...

Querida MEC,

Adorei o relato e ainda vou postar algumas coisas sobre outros carnavais e sobre este que ainda não terminou por aqui. Apesar da "bagunça" como diz, acho que ia gostar se viesse a um dia que fosse de carnaval carioca, não na bagunça organizada do Sambódromo que, essa, acho mais divertida para quem desfila do que para quem assiste passivo. Deveria participar de desfiles de blocos derua, uma bagunça popular e organizada por todos os participantes, na maior colaboração e diversão que se pode imaginar. Gente de todas as idades, cachorros, tudo de que se lembrarem os participantes. Com ou sem fantasia e música e alegria a não poder mais.

Preciso do teu endereço para te enviar convite, pois coloquei grades no meu espaço.

Beijinhos

vague disse...

Que bonita e cheia de salero está, Eduarda E o Lauro também, mui guapos:)