terça-feira, março 27, 2007

74. LIBERDADE

Foto de manHa


Liberté


Sur mes cahiers d'écolier

Sur mon pupitre et les arbres

Sur le sable de neige

J'écris ton nom

Sur les pages lues

Sur toutes les pages blanches

Pierre sang papier ou cendre

J'écris ton nom

Sur les images dorées

Sur les armes des guerriers

Sur la couronne des rois

J'écris ton nom

Sur la jungle et le désert

Sur les nids sur les genêts

Sur l'écho de mon enfance

J'écris ton nom

Sur tous mes chiffons d'azur

Sur l'étang soleil moisi

Sur le lac lune vivante

J'écris ton nom

Sur les champs sur l'horizon

Sur les ailes des oiseaux

Et sur le moulin des ombres

J'écris ton nom

Sur chaque bouffées d'aurore

Sur la mer sur les bateaux

Sur la montagne démente

J'écris ton nom

Sur la mousse des nuages

Sur les sueurs de l'orages

Sur la pluie épaisse et fade

J'écris ton nom

Sur les formes scintillantes

Sur les cloches des couleurs

Sur la vérité physique

J'écris ton nom

Sur les sentiers éveillés

Sur les routes déployées

Sur les places qui débordent

J'écris ton nom

Sur la lampe qui s'allume

Sur la lampe qui s'éteint

Sur mes raisons réunies

J'écris ton nom

Sur le fruit coupé en deux

Du miroir et de ma chambre

Sur mon lit coquille vide

J'écris ton nom

Sur mon chien gourmand et tendre

Sur ses oreilles dressées

Sur sa patte maladroite

J'écris ton nom

Sur le tremplin de ma porte

Sur les objets familiers

Sur le flot du feu béni

J'écris ton nom

Sur toute chair accordée

Sur le front de mes amis

Sur chaque main qui se tend

J'écris ton nom

Sur la vitre des surprises

Sur les lèvres attendries

Bien au-dessus du silence

J'écris ton nom

Sur mes refuges détruits

Sur mes phares écroulés

Sur les murs de mon ennui

J'écris ton nom

Sur l'absence sans désir

Sur la solitude nue

Sur les marches de la mort

J'écris ton nom

Sur la santé revenue

Sur le risque disparu

Sur l'espoir sans souvenir

J'écris ton nom

Et par le pouvoir d'un mot

Je recommence ma vie

Je suis né pour te connaître

Pour te nommer

Liberté.


Paul Eluard

in Poésies et vérités 1942

domingo, março 11, 2007

66. COISAS DE QUE NÃO TENHO SAUDADES 1


Liceu D. Filipa de Lencastre. Aqui, antigo 3º ano (7º actual?). Bata branca, abotoada nas costas (raras excepções). Emblema do liceu no lado esquerdo da bata, emblema da Mocidade Portuguesa no lado direito (em caso de extravio, falta de castigo). Calças, proibido; mangas curtas, proibido; bata sem cinto, proibido.

sexta-feira, março 09, 2007

64. PARABÉNS! PARABÉNS!

Parabéns à RTP, que fez cinquenta anos! Eu sei que me atrasei, mas tudo bem, ainda vou a tempo.
Eu gosto da RTP. Temos ambas Portugal no coração. Foi bom ver que a nossa televisão, de todos nós, ao entrar na idade das "primeiras" rugas conseguiu levantar cabeça e ressurgir, rejuvenescida, cheia de vigor. Todos nos regozijamos com isso.
E, contudo, vejo uma sombra toldar esse regozijo. Vejo ânimos um pouco agitados. Vejo corações magoados no seu orgulho nacional. Engraçado verificar que em Portugal não há fome que não dê em fartura. Passado o tempo de nos envergonharmos de tudo o que era portugês, chegou a época de empunharmos a bandeira do nacionalismo. Ora ainda bem! Melhor assim.
Contudo, neste momento, não percebo bem as razões.
Tudo se deu por causa de uma coincidência de datas na transmissão de dois programas televisivos.
Na RTP 1 era exibida a gala dos 50 anos. Normal, visto que era o dia do aniversário. Na TVI era transmitida uma outra gala, esta da eleição das 7 Maravilhas do Mundo. A data? 7 de Março, tal como vai ser a 7-7 a transmissão da final. De 2007, pois. A organização do acontecimento escolheu o dia por ser 7.
E pronto. Havia duas galas, é verdade. À mesma hora, no mesmo dia. Qual é o problema? Ainda vamos tendo público para encher a deitar por fora o Campo Pequeno e o Coliseu. Cerca da meia noite, Lisboa era uma festa. O fluxo de trânsito que vinha das Portas de Santo Antão juntou-se ao que saía do Campo Pequeno. Alguns encontraram-se a meio caminho, no Galeto, e trocaram impressões. Viste? Vi. Gostaste? Gostei. E tu? Hum... assim, assim.
Era de festa, o ambiente. Uns gostaram mais disto, outros daquilo. Felizmente os gostos não são iguais e a opinião é livre.
Nada me levava a crer que uma inquietação bem diferente alastrava por aí. "Os sacanas da TVI fizeram isto para lixar a RTP", chegou-me aos ouvidos.
Lixar? Porquê? Somos um país pequenino, mas temos público suficientemente adulto para saber optar pelo programa que mais lhe interessa. Ninguém lixou ninguém. Aliás, se alguém ficou prejudicado, foi a TVI, cujas audências para um programa daqueles poderiam ter sido infinitamente maiores se não coincidisse com a festa da RTP. Assim, foi batida pelo 1º canal em dia de celebrações contínuas. Como aliás era fácil de prever: os 50 anos da televisão nacional é tema do interesse de um público muito mais vasto, espalhado por esse país fora, do que a eleição de algo um pouco vago que dá pelo nome de 7 maravilhas do mundo. De um lado o público tinha a oportunidade de rever as velhas glórias que são a nossa memória colectiva, ao longo dos últimos 50 anos, do outro lado, podia assitir a um espectáculo sobre os monumentos do mundo dignos de se baterem pelo título de maravilhas.
Não há concorrência.
Para além disso, em que é que isso prejudica o espectador? Para já, não vai certamente tardar em poder assitir ao programa que deixou de ver (seja ele qual for) e que será certamente , como é hábito, repetido no fim de semana, de manhã, à tarde, à noite e até ninguém o poder já aguentar. Por outro lado, ninguém o impediu de ver fosse o que fosse: deram-lhe a escolher. E ele escolheu livremente.
Eu vi (ao vivo e a cores) o programa do Campo Pequeno e gostei. Gostei mesmo muito. Não sei se na televisão resultou da mesma forma, é possível que sim, ou que não. Mas penso rever.
Não vi o da RTP, portanto não sei se gosto ou não. Mas espero também vir a ver.
Não creio que sejam programas para se comparar, são dois espectáculos, cada um no seu género. Parabéns à RTP, que é a menina dos anos e parabéns à TVI e ao La Féria que nos proporcionaram uma noite de entretenimento absolutamente inesquecível, seja em que parte for do mundo.
Provavelmente terão até sido dois bons espectáculos. Mas, por muito festivos que sejam os acontecimentos que lhes deram origem, não passam de programas de televisão.
Nem tudo tem de ser o Benfica-Sporting!
No dia 7-7-07 vai ser a final das 7 Maravilhas. Acho que não vou assitir... é no estádio do Benfica e cá por casa as tendências são predominantemente verdes.

quarta-feira, março 07, 2007

63. POR QUE GOSTO DE CINEMA # 3

62. COISAS DE QUE TENHO SAUDADES III

Eu nasci no Bairro Alto. Não é a mesma coisa do que nascer em Lisboa. É muito mais. Nasci no Bairro Alto, portanto. Não no BA, como quiseram a uma dada altura chamar-lhe, nem no Bairro, como efectivamente lhe chamam. Não. No Bairro Alto, exactamente.
Havia o Conservatório, mesmo em frente da minha casa, havia as velhas instalações onde todos os dias explodiam para a rua os jornais – de manhã o Século, à tarde o Diário de Lisboa, a República, a Capital – havia o Hospital de São Luís dos Franceses, o elevador da Glória, S. Pedro de Alcântara, o Príncipe Real. Ao lado da minha casa vivia o António Ferro e a Fernanda de Castro. Das janelas que davam para as minhas, o Bernardo Marques desenhava as varinas e os gatos do nosso bairro e a Ofélia Marques iria lançar-se um dia ao encontro da morte.
Tenho saudades desse Bairro Alto. E tenho saudades de ouvir o meu avô contar as histórias de um Bairro Alto muito mais antigo, que ele próprio recordava com saudade. Porque o meu avô era do Bairro Alto, tal como a minha avó e o meu pai. Com nome em tabuleta de estabelecimento reputado, para que não restassem dúvidas. Marcenaria 1º de Dezembro. Que eu já só conheci na saudade do meu avô.

O meu avô era, portanto, um lisboeta, um alfacinha, nado e criado no Bairro Alto, bairrista e cheio de pergaminhos. Figura à António Silva, gestos à António Silva, humor à António Silva, o meu avô passara as noites da sua juventude a divertir-se nos teatros, na ópera e na revista, e a saciar o seu jovem apetite no Tavares e no Marrare. Uma vez por outra, aos domingos, a família saía de Lisboa, para fazer piqueniques e burricadas no Campo Pequeno. Nos meses de Verão retiravam-se para Queluz, para trocarem os ares pesados da cidade pelos ares livres de poluição da província.
Tenho saudades de ouvir o meu avô contar como era essa Lisboa de carruagens, tipóias, cavalos, camarotes no teatro, noites na ópera, cocheiros, trintanários e lavadeiras que iam buscar a trouxa para lavar a roupa no rio, em Caneças. Tenho saudades da sua saudade dos tempos de jovem artista, aluno de Belas Artes, livre, desocupado, amante da boémia, de Sevilha, de zarzuelas e das espanholas. Quando a vida ainda era fácil e amena. Saudades da forma como ele falava da minha avó, sua noiva menina de quinze anos - não havia rapariga mais bonita em Lisboa - paixão incondicional para sempre, até que a morte os separasse.

Tenho saudades de ir pela mão do meu avô pela Rua da Rosa e senti-lo abrandar o passo, demorar-se mais. Era aqui. Rua da Rosa, 168.

61. eva armisén dixit